O sua descaradona
Tire a roupa da janela
Que essa camisa sem dona
Lembra-me a dona sem ela
Tire a roupa da janela
Que essa camisa sem dona
Lembra-me a dona sem ela
Dependurada com graça
Adejante, colorida
A sua roupa estendida
Afaga o rosto a quem passa
E pede que um pintor faça
Nạ sua estreita viela
Uma formosa aguarela
Dessa cena fadistona
O sua descaradona
Tire a roupa da janela
Que eu não posso suportar
A visão que me sugere
Essa roupa de mulher
Vazia, posta a secar;
Pudera eu cinzelar
Do mundo a estatua mais bela
E inspirava-me naquela
Poupinha quê mẹ apaixona
Que essa camisa sem dona
Lembra-me a dona sem ela
Henrique Silva/Daniel
Gouveia
Foto JoanMira