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09 agosto 2011

A HISTORIA DO FADO EM SEIS EPISODIOS - AS CEGADAS





DEOLINDA RODRIGUES - "FADO CORRIDO"
QUINTO:

AS CEGADAS

Algumas curiosidades sobre as "Cegadas".
Existiram vários tipos de "Cegadas". Não havendo uma data rigorosa para o seu aparecimento eu arrisco a data de 1880 para o aparecimento dos primeiros espectáculos de rua, cantadas em tom maior, em FADO Corrido. As "Cegadas não eram mais que uma crítica, cantada em verso, dos costumes e desavenças da época. Nela participavam quatro homens, um, vestido com saias que representava a mulher do lupanar, cantadeira e mulher de vida fácil, outra personagem o Janota, também conhecido pelo "pagantes" (que só pagava quando a sua protegida lhe fornecia empréstimo a fundo perdido). Participava também um polícia que empunhava uma espada de pau e tinha por função manter ou provocar a desordem e finalmente o Galego. Foram muitos os Galegos que emigraram para Lisboa. Faziam os trabalhos que ninguém queria, muitos deles conseguiram subir na vida e ainda existem hoje em Lisboa muitos restaurantes dessa proveniência. Durante os três dias do Entrudo estas boas almas, de bolsos depenados, actuavam nos bairros de Lisboa onde a populaça assistia em redondel e os mais priveligiados, não fosse o Diabo tecê-las, assistiam a estas fadistices de rua nos seus camarotes (nas janelas dos prédios que circundavam o local onde a "Cegada" tinha lugar), no final, os quatro actores diziam a célebre frase "cinco reis, dê reis, tudo é dinheiro". Como nem sempre os assuntos versejados eram do agrado do auditório, havia sempre alguém que se picava, em geral a pancadaria final fazia inveja aos produtores de filmes de Cowboys americanos. Ou porque os actores se cansaram das nódoas negras, dadas sem intensão pelas cargas policiais, ou porque o FADO se tornou mais polido, as "Cegadas" tornaram-se dramáticas e passaram a evocar situações históricas cantadas em tom menor, mais propício ao ambiente evocado. Serviam de tema o drama de D. Inês, o exílio de Camões ou o nevoeiro que impediu o regresso de D. Sebastião. Quando a República passou a ter os seus adeptos e Marx e Lenine começaram a ser lidos, as "Cegadas" começaram a ser políticas e serviam de campanha política para a sensibilização da opinião pública para a queda da Monarquia. Já agora, permitam-me o aparte: terá alguma coisa a ver com o assunto as campanhas política actuais serem uma grande cegada? O FADO serviu, uns anos antes da queda da Monarquia em 1910, como canção política. A provar esta afirmação João Black, socialista republicano que começou a cantar em1893, deslocava-se muitas vezes ao Alentejo para cantar os seus Alexandrinos políticos, a que ele chamava cantigas ao domicílio. Se vivesse na época actual eu chamar-lhe-ia especialista em presidências abertas.

08 agosto 2011

A HISTORIA DO FADO EM SEIS EPISODIOS A GUITARRA E O FADO

QUARTO:


 

A palavra GUITARRA, não identifica nenhum instrumento em especial, excepto se a localizar temporalmente e geograficamente. Cada país tem a sua guitarra. Se for a Espanha comprar uma " guitarra ", o empregado traz-lhe uma viola. Já agora, quando é que será, que a rapaziada passa a chamar às "guitarras eléctricas de violas eléctricas, às guitarra de Folk violas de Folk e os cursos de guitarra clássica, passam a ter o nome correcto de viola dedilhada.
Mas, como terá aparecido no vocabulário musical a palavra GUITARRA e especificamente em Portugal.
A palavra GUITARRA, sem especificar a que tipo de guitarra no referimos, tem a sua origem etimológica na língua Grega, "Kythara", que os latinos transformam em "Cithara".
Dentro da mitologia existem, várias lendas sobres a origem desta palavra:
A palavra GUITARRA, proveio de " CYTHERON " , nome de uma montanha habitada por musas.
Do antigo nome " CYTHARA ", nome de ilha grega - CERIGO , paraíso da poesia e do amor, onde existe um templo dedicado a Vénus.
Atribui-se a invenção de um cordofone, um mouro/espanhol, que viveu na idade média de nome AL-GUITAR.
Pela análise e leitura comparada, de vários documentos que abordam este assunto, é tido como certo a existência de dois tipos de guitarras, na Península Ibérica, na Idade Média: a Guitarra Mourisca e a Guitarra Latina. A primeira de forma ovalada, a segunda com enfraque, isto é, em feitio de oito.
Se puder e tiver paciência para isso, consulte o livro de Juan Bermudo, "Declaracion de Instrumentos Musicales" publicado em 1555, que se encontra na Biblioteca Nacional de Paris (está escrito em Espanhol do séc. XVI e existe uma edição fac-similada na Biblioteca Nacional de Lisboa).
Ainda hoje, muitas são as pessoas que confundem viola com guitarra. A confusão, está na pouca identidade da cultura musical Portuguesa. Muitos são os professores que dão "as aulas de guitarra clássica" quando o instrumento que ensinam, se chama de viola ou violão, em Português.
Para os mais cépticos, consultar o dicionário de música, de Thomaz Borba.
Musicólogos atentos estudaram, a terminologia utilizada pelos escritores Portugueses, chegando a conclusão, que se a palavra VIOLA já era utilizada no século XV e, a palavra GUITARRA só é utilizada no século XVIII. Tem a sua lógica, porque é nesse século que a Guitarra Portuguesa, corta o seu cordão umbilical. Não como os mais saudosistas pretendem, ter estado presente em Alcácer-Quibir, batalha no norte de África onde D. Sebastião perdeu a vida, ou talvez não, em 5 de Agosto de 1578. Segundo as crónicas do frade francês Caveral, os portugueses teriam deixado ficar no campo de batalha, 10.000 guitarras. Quem analisou este documento e o traduziu para português, não teve o cuidado de traduzir a palavra "guiterne" para Viola. Assim, tendo em conta a veracidade dos documentos analisados, poderei afirmar que primeiro apareceu a Guitarra Portuguesa (final do século XVIII), só depois aparece o FADO (como expressão musical).
Portugal é um País muito rico, nos diversos Cordofones que apresenta. Assim, além do Violão tradicional de 6 cordas, companheiro das Fadistices da Guitarra Portuguesa, existem várias violas de arame, com características bem definidas:
A Viola Amarantina (Amarante), Viola Braguesa (Braga), Viola Beiroa (Castelo Branco), Viola Toeira (Coimbra), Viola Campaniça (Alentejo), Viola de Arame (Madeira ), Viola da Terra (S. Miguel, Açores) e Violas de 15 e 18 ordens da Terceira (Açores).
Cada um destes instrumentos, tem uma afinação própria, um determinado número de cordas, enfim uma personalidade enraizada, por mãos calejadas, que os tocam com a sabedoria adquirida ao longo de gerações. Só porque são do povo e não do ambiente clássico, ninguém tem o direito de os destruir.
Gosta que lhe troquem o nome, ou o façam passar por outra pessoa?
Apesar da Guitarra Portuguesa ser um bocadinho mais velha que o FADO, não me diga que estes assuntos não são cativantes.

06 agosto 2011

A HISTORIA DO FADO EM SEIS EPISODIOS

TERCEIRO:



Prefácio do FADO
Deixem-me que me apresente.... eu sou o FADO. Por favor não me confundam com o meu homónimo "fado" que tem a sua origem no vocábulo latino "fatum", que quer dizer destino, aquilo que tem de acontecer. Não, eu sou o FADO, expressão musical umas vezes cantado, outras maltratado e no sentir, dos mestres, lagrimado nas cordas de uma Guitarra Portuguesa. Mas já que a nossa cultura parece ser parente próximo do meu homónimo, por favor dêem-me o privilégio de me defender. Não me façam velho, porque não o sou e não me troquem a nacionalidade, porque tenho muito orgulho em ser português. Se querem saber o nome dos meus pais não leiam certidões de nascimento erradas. Sejam cuidadosos na procura. Se por vezes sou melancólico, não nasci no Norte de África, caso contrário teria casa no Algarve (último reduto da cultura Muçulmana). Há quem confunda o meu gingar com o balancear das Caravelas. Pouco provável. Sabem é que eu enjoo, senão teria aproveitado os cruzeiros do Infante D. Henrique e seria personagem célebre dos nossos Descobrimentos. Que eu saiba, Luís de Camões não era fadista. Já agora e aproveitando o tempo de antena que me estão a conceder fazia uma pequeno reparo às pessoas que elaboram os dicionários e as enciclopédias. Não leiam só o livro do Tinop. Procurem outras opiniões. Certamente passariam a conhecer-me melhor. Alberto Pimentel chamou-me de "Triste Canção do Sul". Se por um lado fiquei triste (não se esquecam que eu já entrei em revistas!). por outro lado fiquei a saber que um senhor chamado Lacerda, na quarta edição de um dicionário que elaborou, deu-me a conhecer em 1874. Se não faço parte de dicionários anteriores, ou fui bébé durante muitos anos, ou então tenho razão: não sou muito velho. Querem que eu seja a canção nacional mas os meus amigos não vão na conversa. Não represento os Viras minhotos nem as Arruadas alentejanas, não sei fazer o sapateado do Fandango nem as voltinhas do Corrido algarvio. Os mais letrados querem que eu seja doutor mas, se é certo que Augusto Hilário me levou para Coimbra, os estudantes criaram uma Guitarra e uma maneira própria de cantar. Eu sou o Fado de Lisboa, embora tenha um primo que estudou em Coimbra, que se veste de capa e batina, que se chama Balada. Ainda não havia telenovelas, já queriam que eu fosse brasileiro. Confundir danças de umbigada, destinadas a distrair os marinheiros, com FADO, só porque no Brasil existia essa dança, é o mesmo que pedir ao seu mecânico para colocar no seu automóvel, aquando da revisão, velas (de pano). Os mais saudosistas defensores do nevoeiro (desculpem o aparte, por acaso as raparigas do Boletim Meteorológico até são simpáticas) querem que eu também tenha participado nas desavenças de 4 de Agosto 1578, onde El Rei D. Sebastião se perdeu em Alcácer Quibir. Estas crónicas foram feitas em francês por um senhor chamado Caveiral. Alguém pouco cuidadoso traduziu para português, a palavra Guiterne (viola de arame) como Guitarra, não desfazendo... até tem uma bela sonoridade. A propósito de Guitarra Portuguesa. Sabem como a conheci? Encontrei-a na esquina de uma rua e "vivemos o amor com carácter de urgência", parafraseando Fernando Pessoa.
Como o Sol ainda vai alto e o burrinho anda bem se querem saber mais de mim arranjem um tempinho da vossa vida agitada e leiam o livro que o José Lúcio escreveu. Para os entendidos ele não vai contar novidades, para os estudiosos talvez encontrem pontos de discórdia, mas como da discussão nasce a luz, acendam-se as velas porque se vai cantar o Fado.
Mais não digo e aos costumes disse nada.

03 agosto 2011

A HISTORIA DO FADO EM SEIS EPISODIOS

SEGUNDO:

O QUADRO DE MALHOA
Será que alguma vez teve a curiosidade de visitar o museu da cidade de Lisboa? De certeza que já teve oportunidade de saborear este belo quadro"O FADO". José Vital Branco Malhoa, pintor famoso, nasceu nas Calda da Rainha em 1855, e faleceu em 1933, em Figueiró dos Vinhos. Veio para Lisboa aprender o ofício de entalhador, mas era seu fado mudar a sua arte para a pintura. Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e foi um atento observador da Mouraria, zona que o inspirou para a criação do seu célebre quadro "O Fado".
Algumas curiosidades sobre o quadro de Malhoa.
Na época, os pintores contratavam modelos vivos para melhor poder expressar a sua arte, foi na Rua do Capelão que Malhoa contratou o Ambrósio Guitarrista e a Adelaide da Facada (tinha na face esquerda uma grande cicatriz e talvez por esse facto ela a encubra com a mão, virando a cara ao pintor). O Ambrósio Guitarrista fez a vida negra a Malhoa. Por ser desordeiro passava mais tempo no calaboiço do que em liberdade, facto este que fez atrasar, em muito, a conclusão do óleo. Recriando no seu atelier (Casa António Anastácio) um cenário natural, esta obra foi finalizada no ano de 1910. Nem sempre o quadro de Malhoa foi conhecido por "O Fado". Em 1912 esteve exposto em Paris com o nome "Sous le Charme", em Buenos Aires "Será Verdade" e em Liverpool "The Natice Song". Em 1917 foi adquirido pela Câmara Municipal de Lisboa pelo valor de quatro mil escudos.
Malhoa quis homenagear e dar dignidade ao FADO. No entanto numa entrevista dada a um jornal nega esta afirmação. Possivelmente, este facto deve-se à polémica gerada à volta da aquisição do quadro pela Câmara Municipal de Lisboa. Foram muitos aqueles que se insurgiram em relação a esta aquisição alegando existirem pintores mais consagrados internacionalmente.
O "Fado" de Malhoa retratava uma cantadeira acompanhada por um tocador que ostentava com um certo sentimento a sua banza (Guitarra Portuguesa). Muitos foram aqueles que confundiram este quadro com a figura de Severa acompanhada, possivelmente, pelo Sousa do Casacão. As chinelas são idênticas, a cabeleira é farta a saia tem rodapé. No quadro não faltam ainda pequenos pormenores como a imagem de Cristo na parede onde as mágoas eram afogadas no fundo de uma garrafa de vinho.

01 agosto 2011

HISTORIA DO FADO EM SEIS EPISODIOS


PRIMEIRO

A SEVERA e o 13º CONDE DO VIMIOSO
Cerdidão de casamento dos pais de Maria Severa
Aos vinte e sete dias do Mes de Abril de mil e oitto Centos e quinze annos, nesta Parochial Igreja de Santa Cruz da Prideira desta nilla de Sanbtarém, Corridos os Banhos em cumprimento alguns e observando em tudo o que determina o Sagrado Concílio, Terendentino, e Constituissonis deste Patriarchado,de na minha pezença e das Testemuinhas abaxo declaradas e asignadas, Receberão por Marido, Mulher Severo Manoel e Anna Gertrudes, elle filho de Pais incognitos, Baptizado na Freguezia de S. Nicolao desta villa, e morador na Freguezia de Nossa Senhora de Marvilla desta villa o que tudo mostrou pella Ceridão do Banho da sua naturalidade e Certidão dos dezoutrigos; ella filha Legitima de Alberto Joze Lobo, e de Quitéria Maria natural da Freguezia de S. Francisco da Ponte de Soure Bispado de Porto Alegre o que tudo justificou no Juizo Eclesiastico dests mesma Villa sendo Viugário Geral o Reverendo Domindos Ferreira do Salvador, o qual mandado me foi apresentado por Ordem do ditto para que eu Recebesse por Marido, e Molher os Contraentes asima dittos, a Contrahante se tem dezcrerignado as Quaresmas do Estilo nesta Freguezia de Santa Cruz aonde he morador; foro Testemuinhas prezenteque Comigo asignarão João Godinho, Manoel Martins o qual asignou com o sinal da Cruz e que confirma para constar faz este termo assente era ut supra.
João Godinho
Manoel Martins
Cuadjutor Francisco Boiz Affonso
Foi na taberna da Rosário dos óculos ( rua do Capelão ), que a nossa cantadeira conheceu o conde de Vimioso. Mas Severa não tinha poiso certo. Cantava o fado na tasca do Cegueta, no Café da Bola, mas, dizem as más línguas, que o seu sítio preferido para cantar o FADO era o café do Joaquim Silva (moço de forcados), próximo da praça de touros do Campo de Santana, onde o Conde se juntava com amigos e amantes da arte de tourear.
O 13º Conde de Vimioso era um hábil cavaleiro e distinto na arte de lidar com os toiros. Foi durante muitos anos aplaudido na antiga Praça de toiros do Campo de Santana.
Tudo leva a crer que Maria Severa tinha vivido os três últimos anos da sua vida, na companhia do Conde. Por ele morreu de amor. Foi a enterrar em vala comum, como consta na sua certidão de óbito do cemitério do Alto de S. João, no livro Nº 3, folha 117. Morreu tuberculosa, sem ter recebido a paga de tantas lágrimas derramadas, talvez porque o seu destino assim o quis.
Chorai, fadistas chorai
Que a Severa se finou
O gosto que o FADO tinha
Tudo com ela acabou

Apesar de Júlio Dantes, no seu romance " A SEVERA " ,ter trocado o nome do seu grande amor, por pressão do Presidente do Concelho Hintze Ribeiro e da família do Conde de Vimioso, o nesmo romancista escreveu uma peça para teatro, representada pela primeira vez no actual S. Luis ( na época Teatro D. Amélia ). A troca escolhida pelo romancista, onde o grande amor de Maria Severa - 13º Conde de Vimioso D. Francisco de Paula Portugal e Casro (1817-1865 ), foi substituido pelo Conde de Marialva era ( que me perdoe o Sr. Doutor De-antes ) bastaste ridícula. O último Conde de Marialva, D. Pedro José Vito de Menezes Coutinho, tinha " em bom calão - batido a bota ", em Paris no ano de 1823, tinha a Severa 3 anos de idade. No entanto, não consegui documentar-me, da existência de " pedófilos " na época.

24 julho 2011

João Linhares Barbosa - Biografia - "O ardinita" - Audio - Musica

João Linhares Barbosa, poeta e jornalista, nas­ceu em Lisboa em 1893, na freguesia da Ajuda onde viveu toda a sua vida e foi lá que veio a falecer em 1965.


Incentivado por Martinho d'Assunção (pai) e por Domingos Ser­pa, enveredou pela poesia na linha do sentimenta­lismo ultra-romântico. Vivia exclusivamente do fruto das suas composições, vendendo as suas cantigas, tal como os outros poetas da altura, pois não havia como hoje as gravações, e portanto era uma forma de receber monetáriamente o retorno do seu trabalho.


Começou a publicar os seus versos no Jornal A voz do Operário, chegando muitas das vezes a ser ele próprio a declamá-los
Em 1922 iniciou a publicação da Guitarra de Portugal que dirigiu até ao final da primeira série, em 1939, e que foi o mais influente jornal da im­prensa fadista, exercendo durante quase duas déca­das forte influência na evolução do Fado.
Sob a sua direcção, a Guitarra de Portugal não só divulgou centenas e centenas de poemas para o repertório fadista como se envolveu em duras po­lémicas com os críticos do Fado, particularmente activos durante a década de 30. O jornal contou com numerosas colaborações (Stuart de Carva­lhais, Artur Inez, Antônio Amargo) e constituiu um precioso elemento de ligação entre os amado­res de Fado, tendo assinantes em praticamente todo o país.
Conti­nuou a colaborar na II série (1945-1947) e noutros jornais, nomeadamente o Ecos de Portugal, que sur­giria em substituição da Guitarra.


Foi muito tempo Director Artístico do Salão Luso.

Em 1963 é Homenageado no Coliseu dos Recreios, recebendo o prémio da Imprensa para o “Melhor Poeta de Fado”


Em 1995 a Câmara Municipal de Lisboa presta-lhe a justa consagração dando o se nome a uma rua de Lisboa, no Bairro do Camarão da Ajuda.


Foi e ainda é, um dos mais admirados poetas do Fado, a sua produção ultra­passou decerto o milhar de poemas, entre os quais se contam algumas das mais duradouras letras tradi­cionais, entre outras:
É Tão bom Ser Pequenino; Lenda das Rosas; Cinco Pedras; Dá-me o Braço An­da Daí; As Sardinheiras; Cabeça de Vento; O Ardinita; Ternura, O Leilão da Mariquinhas; Depois do Leilão Fado dos Alamares; Não te Lembres de mim; O Meu; O Pierrot; Lembro-me de Ti; Mocita dos Caracóis; O Remorso; Vida Airada; Perdição; O Fado da Mouraria; Desespero; As Pedras; Aquela Rua, Ternura, Cabeça de Vento, O Ardinita, Eterna Amizade, Fado Menor, Lenda das Rosas, O Fado da Mouraria, Vida Airada, Disse Mal de Ti, Fado Corrido, Fado das Tamanquinhas, Faia, Lá porque tens cinco pedras, Não digas mal dele. Os teu Olhos são dois Círios, Sei Finalmente, Troca de Olhares.
 

Com Baerta Cardoso e Alfredo Marceneiro no Faia
 Com Domingos Camarinhas, Sérgio, Amália Rodrigues e Berta Cardoso na VIela

"O ardinita"

23 julho 2011

Carlos Ramos - "A biografia do fado" - Audio - Musica





O Rei Humberto de Itália, durante o seu exílio em Portugal tornou-se apreciador do Fado, Lucília do Carmo e Carlos Ramos estavam entre os fadistas que mais admirava e com quem manteve relações de amizade. 
                                                                                     A fotografia está datada e legendada pelo próprio Carlos Ramos.

Era assíduo frequentador d’ O Faia e d’ A Toca.
Nesta última casa de fados ocorreu um episódio que não resisto á tentação de contar:
O piso superior da Toca era um local semi-privado, destinado aos ensaios do elenco e a receber alguns convidados especiais.

Não era raro, poetas como Linhares Barbosa, Domingos Gonçalves Costa, entre outros, ali escreverem belas letras para fado e algumas vezes acontecer serem logo musicadas, ou arranjadas pelos guitarristas.
Presença obrigatória neste espaço era o “Tony-Fotógrafo” que ganhava a vida a tirar fotografias nas casas de fado, com a sua Rolley Flex.
O Tony tinha um pequeno estúdio “preto e branco” no Bairro Alto, de forma que as fotos ficavam prontas a tempo de serem vendidas aos clientes na mesma noite.
Ainda hoje invejo os negros profundos e o alto contraste que o Tony conseguia nas suas ampliações.
Era gente boa, simples, genuína, a falta de cultura era compensada por uma sensibilidade e um coração enormes.
O Tony conhecia a fundo duas coisas: a fotografia e a vida nocturna.

Naquela Noite, Humberto de Itália encontrava-se neste espaço, saboreando uma bebida e conversando com Carlos Ramos e com o Prof. Martinho D’Assunção.
É então que chega o Tony que vendo ali uma oportunidade de ganhar mais uns trocos, agarra na guitarra do Francisco Carvalhinho, aproxima-se do Rei e solta esta frase simples e eficiente e despida de protocolos:
- Oh Senhor reizinho, tire lá um rotratinho ca guitarrinha da mão !!!!  


O Fado era assim, nivelava as classes sociais, mesclava culturas e acima de tudo tinha gente realmente bonita.

Abrantes 14 de Fevereiro de 2007

Eduardo Ramos de Morais