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06 agosto 2011

A HISTORIA DO FADO EM SEIS EPISODIOS

TERCEIRO:



Prefácio do FADO
Deixem-me que me apresente.... eu sou o FADO. Por favor não me confundam com o meu homónimo "fado" que tem a sua origem no vocábulo latino "fatum", que quer dizer destino, aquilo que tem de acontecer. Não, eu sou o FADO, expressão musical umas vezes cantado, outras maltratado e no sentir, dos mestres, lagrimado nas cordas de uma Guitarra Portuguesa. Mas já que a nossa cultura parece ser parente próximo do meu homónimo, por favor dêem-me o privilégio de me defender. Não me façam velho, porque não o sou e não me troquem a nacionalidade, porque tenho muito orgulho em ser português. Se querem saber o nome dos meus pais não leiam certidões de nascimento erradas. Sejam cuidadosos na procura. Se por vezes sou melancólico, não nasci no Norte de África, caso contrário teria casa no Algarve (último reduto da cultura Muçulmana). Há quem confunda o meu gingar com o balancear das Caravelas. Pouco provável. Sabem é que eu enjoo, senão teria aproveitado os cruzeiros do Infante D. Henrique e seria personagem célebre dos nossos Descobrimentos. Que eu saiba, Luís de Camões não era fadista. Já agora e aproveitando o tempo de antena que me estão a conceder fazia uma pequeno reparo às pessoas que elaboram os dicionários e as enciclopédias. Não leiam só o livro do Tinop. Procurem outras opiniões. Certamente passariam a conhecer-me melhor. Alberto Pimentel chamou-me de "Triste Canção do Sul". Se por um lado fiquei triste (não se esquecam que eu já entrei em revistas!). por outro lado fiquei a saber que um senhor chamado Lacerda, na quarta edição de um dicionário que elaborou, deu-me a conhecer em 1874. Se não faço parte de dicionários anteriores, ou fui bébé durante muitos anos, ou então tenho razão: não sou muito velho. Querem que eu seja a canção nacional mas os meus amigos não vão na conversa. Não represento os Viras minhotos nem as Arruadas alentejanas, não sei fazer o sapateado do Fandango nem as voltinhas do Corrido algarvio. Os mais letrados querem que eu seja doutor mas, se é certo que Augusto Hilário me levou para Coimbra, os estudantes criaram uma Guitarra e uma maneira própria de cantar. Eu sou o Fado de Lisboa, embora tenha um primo que estudou em Coimbra, que se veste de capa e batina, que se chama Balada. Ainda não havia telenovelas, já queriam que eu fosse brasileiro. Confundir danças de umbigada, destinadas a distrair os marinheiros, com FADO, só porque no Brasil existia essa dança, é o mesmo que pedir ao seu mecânico para colocar no seu automóvel, aquando da revisão, velas (de pano). Os mais saudosistas defensores do nevoeiro (desculpem o aparte, por acaso as raparigas do Boletim Meteorológico até são simpáticas) querem que eu também tenha participado nas desavenças de 4 de Agosto 1578, onde El Rei D. Sebastião se perdeu em Alcácer Quibir. Estas crónicas foram feitas em francês por um senhor chamado Caveiral. Alguém pouco cuidadoso traduziu para português, a palavra Guiterne (viola de arame) como Guitarra, não desfazendo... até tem uma bela sonoridade. A propósito de Guitarra Portuguesa. Sabem como a conheci? Encontrei-a na esquina de uma rua e "vivemos o amor com carácter de urgência", parafraseando Fernando Pessoa.
Como o Sol ainda vai alto e o burrinho anda bem se querem saber mais de mim arranjem um tempinho da vossa vida agitada e leiam o livro que o José Lúcio escreveu. Para os entendidos ele não vai contar novidades, para os estudiosos talvez encontrem pontos de discórdia, mas como da discussão nasce a luz, acendam-se as velas porque se vai cantar o Fado.
Mais não digo e aos costumes disse nada.